Entrei na sala do médico e fechei a porta.
Calmamente e minusciosamente, ele começou a me explicar o que ela tinha. Ele havia detectado na ressonância um tumor em estágio avançado do lado direito do pulmão, outro menor no lado esquerdo do pulmão e diversos pequenos tumores no fígado. Era um quadro complicado e sem chances de cura.
Ele me explicou que, nesse caso, o tratamento poderia ser feito, mas ela poderia não resistir a ele e, se resistisse, estaria aumentando muito pouco o tempo de vida dela. Nós poderiamos cuidar dela em casa ou interná-la nos hospitais públicos de apoio.
Nesse momento me desesperei. Disse a ele que estava confusa e o pedi ajuda sobre o que fazer. A pergunta que me fez foi marcante:
"Nesses momentos nós devemos pensar como se fossemos nós no lugar dela. Se fosse você, preferiria passar os últimos dias da sua vida na sua casa, com a sua família, ou em um hospital?"
Obviamente eu respondi que preferia ficar com a minha família.
Ele continuou a me orientar. Perguntou se ela tinha filhos ou marido e eu respondi que não. Perguntou se tinha irmãos e eu disse sim, e que inclusive, com excessão da minha mãe, eram todos mais velhos do que ela. Ele me incubiu de avisar a família e me explicou que isso deveria ser feito com cautela, para evitar que problemas de coração pudessem se manifestar nos meus tios. Era preciso contar para todos os irmãos.
Por fim, era preciso contar para ela. O médico me explicou que ela estava lúcida e que tinha o direito de decidir sobre a vida dela. Ela poderia decidir entre fazer ou não a biópsia e, se a biópsia fosse realizada, entre fazer ou não a quimioterapia.
Nesse momento eu tinha vontade de anotar tudo. Tive medo do desespero me fazer esquecer os detalhes importantes. Eu tinha que ser forte para poder cuidar de mim e de todos os meus familiares neste momento.
O médico me disse que, mesmo que ela ficasse em casa, em algum momento nós teriamos que interná-la, e que este momento seria quando a vida dela estivesse em seu estágio final. Ele me disse que esse momento seria reconhecido facilmente (não que não seja dolorosamente), pois ela não conseguiria mais se alimentar ou sentiria dores tão fortes que os remédios que administramos em casa não seriam suficientes para anulá-las.
Chorando, pedi que ele repetisse estas últimas orientações. Ele repetiu. Nós nos levantamos, ele me levou até a porta, e eu tive vontade de agradecê-lo pelo cuidado e pelo carinho que teve.
Na saída encontrei minha amiga e a contei sobre o que o médico havia me dito. Choramos juntas por pouco tempo. Ela me orientou sobre como realizar os exames e voltou a trabalhar.
Fui encontrar minha tia e meu namorado. Eles me esperavam na porta do hospital. Convenci minha tia de tentarmos realizar o raio x neste mesmo dia, de forma a agilizar os resultados para a biópsia.
Ficamos esperando a chamada para realização do exame. Foi uma meia hora terrível. Eu olhava tudo a minha volta e tudo me dava vontade de chorar. Mas eu não podia chorar. Não havia falado com ninguém ainda e não podia deixar que minha tia desconfiasse.
O atendimento demorou tanto que desistimos de realizar o raio x. Ficamos de voltar na semana seguinte. A secretária me aconselhou a levar a tia na próxima segunda-feira, pois às segundas a fila do exame não é tão grande.
Fomos para casa. Por dentro eu tive muita vontade de chorar.